segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Amor interrompido


Em 1992, quando pequena, fui mandada por meus pais a um colégio interno de freiras, no interior paulista. Lá, vivi oito anos de muito ressentimento e medo, mas sempre dávamos um jeito de sermos felizes com o pouco que conseguíamos fazer. Eu detestava aquele lugar. As pessoas que lá trabalhavam eram muito más, pareciam nunca terem tido um momento de felicidade na vida. Abríamos a boca e nos agrediam fisicamente, com o consentimento dos nossos pais – isso me deixava ainda mais revoltada. Eu tinha algumas amigas que também não entendiam essa aceitação dos nossos pais.

Sempre estávamos juntas. Planejávamos fugir daquele lugar ou nos vingarmos daquelas freiras que pareciam o próprio demônio, mas nossa promessa nunca saiu do papel – quando percebiam algum tipo de revolta, escolhiam uma de nós e davam uma surra. Com medo, acabávamos aceitando viver daquela maneira. Tínhamos muitas idéias: conhecer o mundo lá fora, ter amigos homens – algo praticamente impossível ali.

Depois de muito tempo e muitos planos, combinamos sair do colégio, enquanto uma outra garota vigiava, despistando quem nos procurasse. Era sempre por volta das oito horas da noite, na hora do toque de recolher, quando o caseiro do colégio, um velhinho muito amável chamado Manoel, abria o portão para colocar os sacos de lixo nas grandes lixeiras externas. Escondidas, conseguíamos escapar daquele lugar por algumas horas.

Andávamos pela cidade. Era uma cidade muito pacata. Conhecemos algumas pessoas e todas sorriam quando falávamos o que tínhamos feito. Perto das onze horas da noite, corríamos de volta e seu Manoel, olhando para todos os lados do colégio, abria o portão. Corríamos até o quarto onde uma das amigas já nos esperava. O doce velhinho nos observava com um sorriso nos lábios e balançando a cabeça.

Aquilo virou rotina. Pelo menos três vezes na semana, exatamente no dia que o lixeiro passava, lá estávamos nós para a pequena fuga diária. Tínhamos em média 15 anos e éramos muito inocentes. Acreditávamos em coisas de criança e não entendíamos sobre a vida, sobre o amor, muito menos sobre sexo.

Numa das nossas saídas, numa sexta- feira, conhecemos um rapazote que nos levou até a praça da cidade onde os jovens passeavam e paqueravam as garotinhas de longe. Vicente era nosso primeiro amigo “homem”, do tipo magricela e alto. Parecia-me muito mais legal que muitas das garotas do colégio. Ele nos explicou várias coisas sobre a vida e dizia que sentia pena da gente, que éramos muito inocentes, coisa que tínhamos que deixar de ser se quiséssemos continuar a sair do colégio a noite. Ele era mais velho, tinha 18 anos, e trabalhava num armazém para sustentar a mãe e os dois irmãozinhos. Era sempre assim: ele nos esperava no portão do colégio e saíamos juntos.

Senti-me estranha quando aquilo aconteceu. Foi num dos dias que acabei me separando das minhas amigas na praça e acabei ficando sozinha com Vicente. Sentamos num banco debaixo de uma árvore e ficamos ali durante quase todo o tempo, conversando. Ele era muito divertido e simpático. Era a pessoa mais maravilhosa que havia conhecido. Sentia-me segura e feliz ao lado dele. Comecei a ver Vicente como nunca tinha visto um homem antes. Sentia vontade de sair do colégio agora apenas para encontrá-lo. Queria olhar nos olhos dele, escutar-lhe a voz – aquilo era a coisa mais importante pra mim. E era sempre o que acontecia. Minhas amigas se separavam e ficávamos ali, debaixo daquela árvore, conversando sobre a vida e sobre o futuro. Ele me contava coisas da família dele e eu me sentia feliz. Passou-se um mês e sempre a mesma história: saíamos do colégio e eu ficava com o Vicente que já me pegava pela mão para caminharmos juntos pela pequena cidade. Fiquei surpresa e lisonjeada quando ele me convidou para de ir até a humilde casa dele conhecer sua mãe e seus dois irmãos.

Ao chegar lá, senti-me envergonhada e surpresa. Vicente me apresentou a mãe dele como namorada. Apenas sorri. Ela me deu um beijo na testa e elogiou minha beleza. Conheci os dois irmãos dele que, muito tímidos, escondiam-se brincando comigo. Fiquei ali por alguns minutos e tive que me apressar, pois já eram quase onze horas. Vicente levou-me. Minhas amigas, ansiosas, esperavam-me. A partir daquele dia, Vicente me buscava e já íamos direto pra casa dele que ficava bem perto.

Passou-se quase um mês. Vicente se declarou pra mim – foi o momento mais importante da minha vida. Dizia que me amava e que me queria junto dele pra sempre. Fiquei estremecida e um forte calor passou pelo meu corpo... Ele aproximou o rosto do meu. Apenas fechei os olhos e senti-lhe os lábios encontrarem os meus entreabertos, dando espaço para a língua dele deslizar sobre meus lábios no meu primeiro beijo. Ficamos ali por muito tempo. Eu não conseguia desgrudar-me dele. Ele me abraçava e me beijava e eu me arrepiava. Sem mais tempo voltamos ao colégio. Beijamo-nos novamente. Eu disse que o amava muito e entrei maravilhada. Minha vida mudou, eu estava amando. Queria estar junto dele para sempre, queria cuidar dele, acariciá-lo e beijá-lo eternamente. Após esse dia, nossas carícias começaram a ficar mais intensas. Vicente deslizava as mãos sobre meu corpo – eu sentia cada toque, arrepiando-me. Desejávamo-nos cada dia mais e o nosso amor era intenso. Queríamos ficar sempre juntos e eu já voltava ao colégio aos prantos.

Dias depois, Vicente convidou-me para ir a sua casa. Disse que tinha uma surpresa pra mim. Como confiava cegamente naquela rapaz, não pensei duas vezes, sorri e disse que sim. Chegando lá, fiquei muito feliz. Vicente havia preparado o jantar e, sozinhos, comemos e ficamos conversando durante um tempo.

Vicente convidou-me pra ver sua coleção de selos. Fiquei constrangida, mas caminhei junto dele em direção ao quarto... folheava página por página. A cada selo que passava, ele, orgulhoso, falava-me o país a que pertencia o selo. Olhamos todos os selos. Fechei a pasta e a entreguei a ele que a guardou rapidamente. Calados, olhávamos um pro outro. Passei um momento de sufoco e de vergonha ao imaginar o que poderia acontecer, mas não pude recusar-me. Ele veio e pôs-se a me abraçar. Passou a mão em minha nuca e me fez soltar um leve gemido. Passou a beijar-me, um beijo diferente, ardente e molhado. Aquele foi um momento mágico. Senti o calor dos dedos dele caminharem sob minha saia... Ele a levantou. Tremi um pouco, mas não podia interromper aquele momento e, totalmente imóvel, observava minha saia sendo levantada e minha calcinha sendo avistada.

Fechei os olhos e me entreguei àquele momento. Senti que amoleci, minhas pernas bambearam. Ele me empurrava lentamente grudada ao seu corpo, até minhas pernas encostarem-se em sua cama. Segurou-me carinhosamente e sobre ela acomodei-me. Levei minhas mãos para cima da minha cabeça, fazendo com que minhas pernas ficassem totalmente à mostra. Enquanto ele me beijava, suas mãos chegavam à minha virilha por baixo da saia – eu sentia uma coisa muito boa e não conseguia me mover para proibir aquilo. Ele acariciava minha virilha, alisava minhas partes íntimas por cima da calcinha, deixando-me ofegante, com a respiração acelerada. Num movimento involuntário, senti minhas pernas se abrindo, dando espaço para a mão dele me preencher. Ele me alisava. Eu respirava fundo, fazendo-o me apertar sobre a calcinha.

Com um movimento rápido, ele se levantou e tirou a camisa. Não consegui tirar meus olhos daquele corpo desnudo. Meu desejo por aquele homem aumentava cada vez mais. Acariciei-o levemente, fazendo-o soltar um gemido... Ele forçou minha camisa pra cima e me deixou apenas de sutiã. Abriu vagarosamente os fechos da minha saia e a tirou. Tive muita vergonha quando ele me olhou da cabeça aos pés e coloquei minhas mãos sobre meus seios – aquela situação me constrangia.

Ele se levantou e tirou as calças lentamente diante de mim. Eu olhava para os olhos dele, mas estava louca pra ver o que apareceria. Fiquei muito envergonhada, mas me contive. Observei, curiosamente, o membro dele... Era lindo! Após, levantei-me diante dele, desprendi meu sutiã e deixei meus seios a mostra. Carinhosamente, ele veio sobre mim e beijou-me até ficarmos deitados. Senti meus seios esfregaram-se nele, misturando aquele calor todo que sentíamos. O membro dele tocou minha perna. Estremeci. Temia por mim. Ele se baixou um pouco – pude ver a língua dele deslizando sobre o meu mamilo. Nunca tinha sentido algo tão maravilhoso durante toda minha vida. Eu me arrepiava enquanto ele me sugava, fazendo barulhos enlouquecedores: revezava de mamilo e, às vezes, olhava pro meu rosto. Senti que havia entre minhas pernas uma umidade fora do normal – meus olhos viraram! Sentia vontade de gritar e de chorar ao mesmo tempo. Ele percebeu e sorriu pra mim. Nesse momento trocamos frases intensas de amor.

Ele passou a língua nos meios meus seios, até chegar ao um umbigo. Imaginei o que estava prestes a acontecer e me apavorei, começando a chorar. Ele, mais que depressa, levantou-se, abraçou-me e disse que nunca faria se eu não quisesse... Garantiu, entretanto, que seria muito bom pra mim. Beijou minha boca novamente. Nessa hora, amoleci meu corpo e me deitei na cama disposta a entregar-me de corpo e alma.

Ele passou as mãos entre minhas coxas e as abriu, beijando-me as virilhas. Passou a língua em volta. Aquilo estava me fazendo quase explodir. Não demorou muito e senti os lábios dele encostarem-se em mim. Ele lambeu e sugou toda aquela região... Eu não conseguia parar de gemer. Novamente, senti aquela explosão se aproximando e não me contive: soltei, em voz alta, outro gemido prolongado de satisfação e de gozo.

Avistei o objeto do meu desejo quando ele se levantou. Fiquei envergonhada, virei meu rosto. Ele deitou sobre mim novamente e ficamos ali por alguns segundos nos acariciando e nos beijando. Percebi que a respiração dele estava intensa... Ele buscava o local certo, ajeitava-se sobre mim. Olhando nos meus olhos, esfregou o pênis em mim até encontrar o lugar desejado. Senti que era a hora, que viraria mulher. Não me movi, deixei-o saciar nosso desejo. Ele encostou o membro na entradinha. Forçou. Eu suava e respirava rápido. Senti uma dor misturada com prazer e acabei relaxando. Ele forçava e me penetrava cada vez mais forte. Num certo momento, ele me perguntou baixinho se estava tudo bem. Eu, com um sorriso tímido de dor, disse que sim. Ele me penetrava e nossos olhares não se desgrudavam em nenhum momento. O suor escorria do rosto dele, respingando sobre meus seios – eu gemia de dor e de prazer. Senti os movimentos acelerarem-se, fechei meus olhos por um momento e fui às nuvens novamente. Ele me chamava de amor e gemia, conforme a intensidade dos movimentos. Percebi que a explosão estava por vir. Ele acelerou os movimentos... Isso denunciava. Notei gestos de satisfação no rosto dele e os movimentos foram diminuindo até que ele se acomodou totalmente sobre mim. Senti um líquido me molhando as pernas, enquanto ele se deitava ao meu lado. Abraçamo-nos e juntos adormecemos.

Acordei desesperada no meio da madrugada e chamei Vicente que pulou da cama e pôs-se a se vestir. Apavorados e desajeitados, corremos, de mãos dadas, ao colégio. Para nosso desespero, lá estavam todos: várias freiras, a diretora, muitas garotas e minhas amigas.

Uma das freiras, puxou-me de Vicente e me jogou com força pra dentro do colégio. Eu esperneava, enquanto era surrada por uma varinha fina. Fiquei toda machucada e solucei o resto do dia. Minhas amigas, depois de duas horas me esperando, acabaram tendo que comunicar a diretora e também foram punidas severamente.

No dia seguinte meus pais chegaram ao colégio para me buscar. Fiquei sabendo que eu havia sito expulsa. Minha vida tinha acabado – iam separar-me do meu único amor e eu nunca mais seria feliz.

Meus pais, embrutecidos, empurraram-me no carro com minhas malas e, ao passarmos na rua defronte à praça, pude ver Vicente acabado, sentado no mesmo banco onde nosso amor começou e findou...

Alguns anos mais tarde, uma de minhas amigas adoeceu – estava à beira da morte. Fui visitá-la e, na volta, passei no antigo armazém que Vicente havia trabalhado. Fui informada que ele havia se casado com uma moça do bairro e que sua filha, a pequena Beatriz, já havia cinco anos.

Não tive coragem de procurá-lo mais. Infelizmente, aquela coragem que eu tinha quando jovem não existia mais em mim.

Chorei muito ao retornar. Não conseguia entender por que Deus nos separou, talvez eu não fosse capaz de entender o motivo.

Hoje sou sozinha, leciono num colégio de moças e, pra minha felicidade, sou a pessoa mais querida que as garotas tem lá dentro. Vivo pra elas e tenho certeza que moro no coração de cada uma. Sou feliz e não amargurada. Sinto muito orgulho de mim. Sou a professora Beatriz, a única do colégio que realmente se importa com a vida e o bem estar das garotas. Darei tudo de mim e farei o possível para que sejam felizes.

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