segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Padre e a Pecadora



Para você que está começando a ler este conto, confesso: o que será narrado nas próximas linhas é fruto da minha imaginação devassa, depravada, e imoral. O único propósito deste conto e levar você aos seus desejos e sensações adormecidas.
Deus fez o homem à sua semelhança e, desde que nascemos, tentamos seguir os mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas; não tomar seu santo nome em vão; guardar domingos e festas; honrar pai e mãe; não matar; não pecar contra castidade; não roubar; não levantar falso testemunho; não cobiçar a mulher do próximo; e não cobiçar as coisas alheias. Valores que são passados pelos nossos pais, avós, mas que dificilmente seguimos.
O homem vive numa faca de dois gumes e seu limite sempre estará sendo testado, ainda mais para um homem santo, que dedicou toda sua vida a Cristo e a igreja, mas que em sua essência animal é igual a todos nós. Isso para mim é a grande piada da vida. Pode Deus exigir que um homem se omita aos prazeres da carne apenas por uma escolha própria de dedicar sua vida em devoção a ele?
O padre Matheus acordava todo dia às cinco horas da manhã, rezava durante uma hora na capela da igreja, e depois se dedicava aos trabalhos da comunidade, na pequena cidade de São Raimundo, no interior do Maranhão. As ruas calmas, os bois e as vacas passeavam juntamente com os habitantes pelas ruas de barro. Alguns casarões antigos, casas feitas de barro e palha, outras em alvenaria, a monotonia tomava conta do lugar. Como em toda cidade pequena, a rotina fazia parte da vida dos poucos habitantes da região: os homens iam para a roça e as mulheres ficavam em casa, cuidando dos afazeres domésticos; as senhoras viúvas, ajudavam o padre na educação das crianças; outras senhoras de idade, antes do meio dia, iam se confessar. Um local totalmente isolado do resto do país, não havia televisão nem telefone. A cidade mais próxima ficava a uma hora de jegue. Sorte quando aparecia algum automóvel ou ônibus. Os acontecimentos de 1968: repressão da ditadura militar, protestos estudantis por melhoria na educação, guerrilhas instaladas em outros locais. Para eles, a vida se concentrava ali naquele pequeno pedaço de chão. A missa das dezenove horas era assistida por toda cidade. Havia pessoas que assistiam à missa de pé. Padre Matheus era muito querido e respeitado. Após a missa, todos se recolhiam e esperavam o outro dia chegar.
Em meados de agosto, algo muda a rotina da cidade. Chega à vila uma mulher de aparentemente trinta anos, acompanhada do marido. Um quarentão rude, que pouco ligava para a mulher a não ser na hora de fazer sexo. Para Maria era uma obrigação burocrática na qual não sentia nada. Ela nunca havia descoberto o prazer.
Toda a cidade comentou a chegada do novo casal e, principalmente, sobre a beleza da formosa mulher. Realmente ela era muito bonita: porte de rainha, cabelos pretos ondulados caídos pelo rosto, semblante alvo, olhos castanhos, boca carnuda com uma pequena pinta do lado direito, sobrancelhas grossas e bem desenhadas; seios fartos e exuberantes, escondidos por trás de uma blusa completamente fechada... a saia até os joelhos que ela costumava usar, exibiam pernas grossas e bem delineadas. Maria, mesmo com um jeito simples de se vestir, era insuportavelmente charmosa, e sensual.
O casal se integrou rápido ao novo local. Maria já tinha algumas amigas e o marido estava trabalhando na lavoura junto com os outros homens.
A rotina da cidade já fora incorporada à vida do casal. Portanto, no último domingo de agosto, Maria e o marido decidem ir a missa. Até esta presente data, padre Matheus ainda não havia conhecido o casal, vez que Maria só falava com as vizinhas e praticamente não saía de casa.
A igreja ficava no alto de uma pequena colina e os lampiões trazidos por homens e mulheres iluminavam a rua escura. Todos vinham conversando, mulheres falando de cozinha, filhos. Os homens vinham falando do trabalho na roça, em beber algo depois da missa, no único bar que existia na entrada da cidade.
Padre Matheus chega ao altar com um coroinha para começar a missa. Algo inusitado acontece. Sem explicação alguma, Maria olha para o homem de batina e sente um calor arder em seu corpo, uma sensação nunca sentida antes. Algo que lhe desconsertava a deixava inquieta por dentro. Sentiu o coração acelerar e as pernas estremecerem. Na sua vida simples, de esposa e dona de casa, nunca havia se sentido tão estranha, como se a partir daquele momento ela despertasse para a vida. Seu casamento fora arranjado pelo pai e com quinze anos de casada ainda não havia conseguido dar um filho ao marido que a chamava de seca, infrutífera. Maria agüentava tudo calada, sentia-se impotente, sem forças. Ela teria que aceitar o destino que Deus havia escolhido para ela.
O padre inicia a missa. Todos prestam atenção – ele ainda não havia notado a presença de Maria. O tempo ia decorrendo e Maria sentia-se cada vez mais estranha. Observou cada detalhe do homem santo: a fisionomia séria, a cor dos olhos, cabelos, o formato do rosto, as mãos, o jeito de falar, os pequenos gestos. Por algum momento, tentou decifrar o corpo do padres, rabiscado pela batina que caía sobre ele. Ela estava se sentindo tão viva, fêmea, mulher – todo o desejo que estava reprimido em seu corpo, agora explodia e causava vários abalos sísmicos em sua alma, essência de amante e amada adormecia.
No meio da missa, o padre começa um sermão sobre o casamento, a família, respeito ao próximo e pecados da carne. Todos prestavam atenção e gostavam do que ouviam. Ele, ao olhar para a ponta da terceira fileira dos acentos, olha para Maria. Seus olhos foram acometidos de uma hipnose de tal maneira que parecia existir apenas aquela senhora dentro da igreja. Ele havia conhecido a nova moradora da cidade e nunca poderia imaginar que ela lhe causaria tão forte impacto. Por alguns segundos ficou sem dizer nenhuma palavra... falou sobre o pecado da carne. Algo contraditório estava acontecendo ali. Tudo o que ele falava agora estava desconexo com que o seu corpo e sua mente estavam sentindo naquele momento. Dizia que não devíamos desejar a mulher do próximo, que Deus nos fez para ser apenas de uma pessoa, que devíamos nos voltar para o equilíbrio do espírito e não ficarmos alimentando os desejos da carne com pensamentos impuros, pois Deus nos fez para o amor, para amar ao próximo, nossa família, respeitarmos um ao outro.
Pela primeira vez o olhar de Maria se cruza com o de padre Matheus. Ele, mais uma vez, por questão de segundos, para de falar, mas logo em seguida continua o seu sermão. Ela desvia o olhar rapidamente. Ele olha para a entrada da igreja, passando o olhar por todos que estavam ali.
Não demora a hora de comungar. Maria se levanta e vai para a fila receber o corpo de Cristo. Seu coração palpitava, era uma sensação espontânea, não podia controlar seus sentidos. À medida que a fila ia andando, mais apreensiva ela ficava. A mesma sensação o padre estava sentindo. Ambos, sem entender o que estava acontecendo, ficaram frente a frente. O olhar frontal dos dois foi quebrado pela presença do corpo de cristo: a boca de Maria se abriu lentamente para receber a hóstia. Ela, ouvindo as palavras do padre, baixou a cabeça e voltou para seu lugar.
Em seus pensamentos, com o corpo de cristo na boca estava, queria matar-se, por estar em pensamento cometendo o maior dos pecados: receber a hóstia com a alma impura naquele momento. Quem sabe se nesse momento sagrado de intimidade com Deus, Ele a pudesse confortar.
A missa acaba. Lentamente, todos vão voltando para suas casas. O padre observa a mulher ao lado do marido até que seus olhos a percam de vista no meio das outras pessoas. Ele olha para a imagem de cristo pendurada no altar e pede perdão em silêncio – ajuda o coroinha a arrumar o altar e vai deitar-se. Dentro do quarto, sem o peso da batina, o pároco pega bíblia e reza alguns pais nossos e umas dezenas de credos. Pede mais uma vez perdão a Deus e deita-se na cama para dormir.
Maria chega em casa e prepara algo para o marido comer. Este, sentado numa poltrona, prepara o cigarro com tabaco. Acende e espera a mulher o chamar. Maria, na beira do fogão, lembra do padre Matheus e sente outra vez um calor dentro dela. O olhar do padre não lhe saía da cabeça. O marido janta e pede que a mulher o faça companhia. A mão bruta é colocada entre as pernas, procurando o sexo da esposa. Hoje ele a usaria. Por volta das nove e meia da noite, marido e mulher estão na cama. Maria sente o beijo molhado e nojento. Ele lhe arranca a calcinha, bota o membro para fora e a possui. Sentindo aquele corpo sobre si, a mulher não sentia nada, parecia uma boneca de pano. O marido, ao terminar de gozar, sobe as calças, vira para o lado e dorme. Maria, mais uma vez, não sentira nada.  Ela se recompõe e, deitada, olhando para o teto, no meio do escuro do quarto, tem a certeza de que chegou a hora de ser amada. Queria ser tocada pelo padre. Em seus pensamentos, ele a faria sentir sensações ainda mais fortes do que ela sentiu, quando o olhou pela primeira vez. Ela o queria e, ao mesmo tempo, julgava-se mundana, imoral, pois para ela a mulher deveria respeitar o marido, mas estava atraída e apaixonada pelo padre. Era tudo confuso e seus princípios estavam ruindo. O amor, o desejo, a paixão, colocou-a num dilema.
No seu pequeno quarto no fundo da paróquia, padre Matheus acorda assustado. Ele teve um pesadelo. Iria dar meia noite, quando olhou para o relógio da parede. Algo que há muito tempo não acontecia o atormentava. Algo latejante entre as pernas estava confessando o teor do sonho. Sonhou com Maria nua em sua frente. Os seios rosados, a pele branca, o colo do corpo liso, o sexo escondido por alguns pêlos pubianos. Ela vinha em sua direção e o beijava, tocando-lhe a parte do corpo adormecida durante anos. Isso não podia estar acontecendo. O padre chorou e se ajoelhou em cima do milho... rezou diante da imagem de Cristo, pendurada na parede do quarto. Rezou durante duas horas e dormiu deitado no chão pedindo perdão a Deus.
De manhã cedo o marido de Maria vai para a roça trabalhar. Avisa a esposa que volta para almoçar. Maria teria que mudar seus planos, teria que ir à igreja apenas pela parte da tarde. Ela espera o marido terminar de almoçar e voltar para lavoura para depois ir ao encontro do padre Matheus.
Na igreja, o padre estava no confessionário ouvindo uma das beatas, quando Maria chega. Ela se senta no banco do fundo e espera a velha sair. Lentamente ela caminha e se ajoelha diante da tela que a separava do padre. Coração acelerado, palavras que não queriam sair. O padre a reconheceu. O coração acelerou e o clima apreensivo tomou conta da igreja. Maria quebrou o silêncio:
– Bom dia, padre?
– Bom dia, minha senhora. – disse quase sem voz.
– Padre, vim confessar meus pecados.
– Diga-os, pois Jesus sabe que você é uma boa filha.
– Não sou. Estou tento pensamentos impuros. Estou apaixonada por outro homem.
O padre ficou calado por alguns minutos... Não sabia o que dizer àquela mulher.
– Tente afastar esses pensamentos ruins da cabeça. Seu marido é um bom homem. Reze dez ‘ave marias’ e dez ‘pai nossos’.
– Você não entende, padre. O que estou sentindo agora, nunca senti por nenhum homem. Não vai adiantar rezar. Mesmo que reze a vida inteira, o que sinto por esse homem nunca acabará.
– Eleve seus pensamentos a Deus, ele lhe dará uma saída.
– Estou apaixonada por você. Percebi a maneira que você me olhou quando nossos olhares se cruzaram. Foi algo tão forte dentro de mim. Sei que você sente a mesma coisa por mim.
O silêncio do padre era a resposta afirmativa que Maria precisava ouvir. Ele agora não teria nenhuma saída, a não ser confessar seu amor por ela. No entanto, as palavras faltavam, ele não sabia como agir e falar. Estava totalmente indefeso.
– É verdade, mas rezei muito e afastei esses pensamentos impuros da minha cabeça. Dedico minha vida a Deus. Não sou igual aos outros homens, não posso desfrutar dos prazeres terrenos.
– Não, padre! Você é igual a qualquer outro homem. Quando fiquei na sua frente, antes de receber a hóstia, éramos um homem e uma mulher descobrindo o amor. Você acha que escolhi gostar de você?
Talvez para olhos mais conservadores, o momento da hóstia era um padre entregando o corpo do Senhor para uma fiel – mas apenas os dois sabiam do que estavam falando e sentido. O coração acelera, nos sentimos apreensivos, os olhos brilham, há uma áurea de felicidade em torno de uma pessoa que está amando. Estar perto da pessoa amada, sentindo que essa pessoa também nos ama, realmente é uma sensação indescritível. O padre Matheus sabia de verdade o que Maria estava falando.
– Nem eu! Isso é difícil para mim. Vou rezar muito por você e por mim. Nosso amor é impossível.
– Não diga isso, padre. A minha vida é péssima. Eu não amo meu marido. Se não for com o homem que amo... Ontem ele me procurou. Não sinto nada, não gosto de ser tocada por ele. Pensava que era minha sina, mas depois que vi você, descobri que Deus havia me enviado o meu homem.
– Minha senhora... Vai ser melhor assim. Temos que nos afastar para tirar de dentro de nós a tentação que o demônio está nos colocando. Acho melhor você ir rezar agora.
– Mas padre...Você me a...
– É melhor você ir – disse Matheus.
Maria vai embora da igreja sem olhar para trás. O padre estava suando frio. As mãos estavam geladas, faltava-lhe a razão para poder acreditar piamente no que tinha acabado de ouvir. Passou o resto da tarde pensando na conversa que teve com Maria. Ele rezava, tentava elevar seu pensamento a Deus, mas a figura de sua amada vinha a sua cabeça. Maria voltou para casa – não acreditava no que tinha feito. Rezou um pouco – havia feito, o que o coração estava pedindo.
Será que Deus teria colocado uma grande provação pra ela? Ela deveria continuar sendo boa esposa, fiel e companheira do marido?
Nesse dia Maria não foi à missa. Inventou para o marido que não estava passando bem. O marido acreditava no mal estar da mulher, na esperança da mulher estar esperando o filho que ele tanto sonhava.
O padre procurou Maria entre as pessoas que estavam na igreja. Não a encontrou. Seu coração sentiu um aperto. Iniciou a missa perguntando-se como ela estaria naquele momento. Ele rezou a missa numa certa agonia e não conseguia parar de pensar na mulher que lhe estava atormentando a alma desde ontem.
A missa termina e o padre vai rezar no quarto. No meio da noite, acorda-se assustado mais uma vez. Sonhou que seu corpo estava sendo tomado pelo calor do corpo que tanto desejava: sua alma estava inerte em pensamentos impuros. Podia sentir o calor dos seios e do sexo derramando rios de sensações desconhecidas sobre seu corpo. O homem puro começa a rezar. Rezou a noite toda. Quando percebeu já era dia.
A manhã estava nublada, com nuvens cinzentas no céu. Não havia nenhum raio de sol. Um pequeno frio ensaiava uma tempestade matinal, mas para a surpresa de todos não caiu nenhuma gota. À tarde, a expectativa era a mesma, mas nada aconteceu. No entanto, o céu estava mais cinzento e uma friagem como nunca houvera anteriormente na cidadezinha, fez com que os moradores colocassem um pouco mais de roupa. Os homens voltaram cedo da lavoura, as mulheres ficaram recolhidas dentro de casa, algumas crianças tentaram estudar, mas o padre achou melhor que retornassem para suas casas.
Havia um certo cansaço na fisionomia do padre. Pequenas olheiras denunciavam uma noite mal dormida. Seu pensamento vagava em outro plano, procurando uma resposta para sua inquietude. Até o inicio da missa, não fez outra coisa, senão pensar, confinado dentro da igreja.
Maria ficara em casa guardando-se do frio – também passou a tarde pensando. Ela refletiu, conversou com Deus a sua maneira, e pedia um sinal de ajuda. Queria apenas um sinal para tomar a atitude que o Todo Poderoso achasse certa. Seu coração teimava, mas ela pensou, não parou de pensar. Chegou a pensar que a chuva seria um castigo, que poderia haver uma forte tempestade, devastando todo o local, principalmente sua casa. Seu marido chegou no fim da tarde e mandou-a se arrumar para ir à missa. Algumas senhoras famosas por conhecerem o tempo na região afirmavam que a chuva iria ocorrer apenas no outro dia, apesar de nunca ter visto nada igual em mais de cinqüenta anos.
Todos pegam seus lampiões. Os mais precavidos trazem algo para se proteger da chuva. Os moradores vão se aglomerando em direção à igreja, o vento não muito forte chegou a apagar algumas lamparinas, mas continuaram até chegar ao destino de todas as noites.
O altar já estava pronto e padre Matheus esperando a igreja encher. As pessoas chegaram em um mutirão só. Todos se acomodaram. Ao ver Maria, sentiu um frio percorrer-lhe a espinha. Ela sentiu um calafrio e se aproximou, segurando uma bíblia, de braços dados com o marido. Foram sentar juntos com os vizinhos da casa em frente à dela, bem na primeira fileira, para desespero dos dois corações apaixonados.
A missa se inicia. O olhar de ambos denunciavam uma agonia, incertezas. Tentaram se evitar durante toda a missa. Ela olhava para baixo. Ele olhava para os bancos de trás da igreja. Algumas vezes os olhares se cruzavam – era inevitável. O silêncio existia apenas para os dois. As palavras que o padre Matheus falava não tinham sentidos. Ela não ouvia nada do que ele dizia, estava compenetrada. Todos assistiram à missa normalmente.
O vento traz um frio para dentro da igreja. Os bicos dos seios de Maria ficam durinhos, furando a blusa delicada de algodão. O braço do marido tenta aquecê-la. Outras pessoas se agasalhavam como podiam.
O olhar, de cima do altar, contempla os seios de Maria rapidamente sem que alguém perceba. Ele se sente tentado e anuncia a hora de comungar. Uma pequena fila vai se formando. Esperava que Maria fosse receber o Corpo de Cristo mais uma vez, mas ela não podia nem se achava digna de recebê-lo.
Termina a missa. Todos vão se levantando e caminhando em direção as suas casas. Um dos homens tem a idéia de beber uma “branquinha” no bar para esquentar o corpo do frio que assolava aquela região. O marido de Maria e o vizinho vão com alguns homens em direção ao bar. Maria segue com as vizinhas. Quando sente falta da bíblia, decide voltar para buscá-la.
O vento quase apaga o lampião que Maria segurava. O vento ficava cada vez mais forte, as folhas do chão começaram a se movimentar e algumas levantaram um pequeno vôo. A poeira batia nas pernas de Maria que chegou à igreja na hora em que o padre ia fechar as portas. Os dois se encaram seriamente com uma certa apreensão:
– Vim buscar minha bíblia que esqueci.
– Esta que está na minha mão? – perguntou o padre.
– Essa mesma. – respondeu Maria.
– Pegue. – disse o padre.
– Obrigada! Gosto de ler a bíblia antes de dormir.
Uma chuva forte começa a cair na cidade. Rapidamente forma-se um rio escoando a água barrenta da chuva. O padre puxa Maria para dentro e fecha o portão. Os dois, embora  com alguns pingos remanescentes da chuva, estão protegidos. Entreolham-se e ficam sem saber o que dizer um ao outro. Enquanto o marido de Maria estava preso dentro do bar, em função da chuva, ela estava presa com o homem que amava verdadeiramente. Será que era o sinal que Deus havia enviado? Dentro da igreja Maria começa a falar:
– A chuva não vai passar tão cedo. Meu marido deve estar preocupado comigo.
– Ele vai encontrá-la sã e salva. Aqui não há nenhum perigo. – disse Matheus.
– Ele está bebendo com os amigos no bar. Espero que tenha ficado lá. Meu marido pensa que estou em casa.
– Maria, queria lhe dizer algo.
– Diga, padre. Eu estou ouvindo o senhor.
– Pensei em você o dia todo e acabei tomando uma decisão que será a melhor para nós dois. Não podemos continuar convivendo com essa situação, com esse amor impossível.
– Impossível pra você padre. Estou disposta a largar meu marido e enfrentar o preconceito de todos por amor a você.
– Estou indo embora. Vou escrever uma carta para a capital pedindo para ser transferido para outra igreja. Outro padre deve ser designado para esta cidade.
– Eu também estava decidia a passar um tempo com meus familiares. Inventaria uma suposta gravidez.
– Isso é errado, Maria! Mentir não é bom. Seu marido não merece isso.
– Padre, você está mentindo para você mesmo quando tenta fugir do sentimento que sente por mim. Diz que não tem vontade de me beijar? – disse Maria se aproximando de Matheus.
– Não é verdade, disse o padre imóvel. – Ele tentava se mexer, mas as pernas pareciam estar paralisadas.
– Matheus, eu te amo – disse Maria dando um beijo nele.
E suas bocas sentiram o calor quente uma da outra. Era mágica a sensação da mão da mulher amada acariciando-lhe o pescoço. Tentou empurrá-la e dizer um não praticamente sem sonoridade. As mãos inexperientes de Matheus acariciavam as costas através do tecido fino. As mãos femininas desvendavam aquele peito forte, o abdômen nunca visto e a batina foi aberta, lentamente. As quatro mãos a despiram. O padre já não existia. Agora, eram apenas homem e mulher descobrindo o amor. Matheus pode vê-la completamente nua e conhecê-la pelas mãos. O chão frio da igreja recebeu o corpo de Maria que, por sua vez, recebeu o dele em seus braços.
O barulho da chuva era ensurdecedor. A vulva latejante recebeu o corpo quente do amado que ao sentir o calor tomando conta do seu sexo, soltou um pequeno gemido. Os movimentos eram lentos e os beijos apaixonados selavam a união. A boca do noviço beijava aqueles seios rosados, de mamilos grandes. Eles se amavam. A amante ensinava os caminhos ao amado, posto de costas ao chão. Maria cavalga, sentindo algo macio e grosso dentro de si. Sussurrava alguns gemidos de prazer. As mãos daquele homem exploravam cada poro do corpo de Maria. Lentamente, ela cavalgava. Sentindo certa agonia no padre, ela parou para que ele não gozasse. Abraçou-o com o membro ainda dentro dela.
De repente, alguns clarões surgem por detrás do vidro da igreja e uma luz forte irradia. Sentiram-se leves em suas áureas. Ela pediu que ele a amasse. Depois de um longo beijo, a fêmea se vira outra vez e volta a sentir o amado dentro dela. Abraça-o e o beija. Os movimentos saem lentamente – não demora muito para que aquele homem inexperiente conheça o prazer. Na hora do gozo, ele é brindado com as unhas da amada, arranhando-lhe as costas. Os dois haviam chegado ao clímax do prazer como se já tivessem feito amor antes. Os trovões, a chuva, e as velas que iluminavam a igreja, foram as únicas testemunhas daquele ato de amor. Dormiram exaustos, alheio ao dilúvio que desabava lá fora.
O padre acorda e sente a culpa caindo sobre suas costas. Acorda Maria e a manda embora. Ela segue para casa sem entender tal atitude, mas estava preocupada com o marido. Por sorte, consegue chegar em casa antes dele. Eram cinco e meia da manhã e ainda estava escuro. A chuva tinha ido embora e as ruas estavam alagadas. Maria segue para o banheiro e vai tomar um banho, pensando no que acabara de praticar. Tinha cometido adultério e agora era diferente das outras mulheres, era uma vagabunda, mundana, devassa... Estava feliz! Em seu pensamento, a luz que apareceu na igreja era o sinal de que Deus havia permitido o amor dos dois. Rezou diante da imagem de Cristo e foi preparar o café para o marido que logo chegaria em casa.
O padre não entendeu da mesma forma que Maria. Havia traído a confiança de Deus. Sujou o nome do criador com o pecado da carne. Não merecia estar dentro daquela igreja. A luz era a desaprovação do seu pai todo poderoso. Ele chicoteou seu corpo nu com o próprio cinto. A fivela causava hematomas, a dor era insuportável, mas ele queria senti-la para purificar sua alma. Com o corpo todo dolorido, escorrendo em sangue, foi até a imagem de Jesus Cristo no altar, e a fitou.
Os primeiros raios de sol começam a limpar o céu. As pessoas começam a reparar os estragos. Todos ficaram preocupados com os pequenos estragos da chuva que ainda não haviam percebido que a igreja não abrira os portões. Algumas senhoras foram até lá chamar o padre, mas nada se ouvia. A notícia espalhou-se pela cidade, todos comentavam o assunto. Durante os dez anos que o padre Matheus cuidou da paróquia, ela nunca havia ficado de portas fechadas. Maria ficou preocupada, mas tentava esconder a tensão. Alguns homens foram chamados para arrombar a porta, o padre poderia ter passando mal.
A cidade inteira estava diante da igreja. Encontraram padre Matheus caído nu com marcas de sangue escorrendo pelo altar. A multidão correu para acudi-lo, mas ele não respondia. Encontraram o cálice ao seu lado, junto com uma garrafa de água sanitária. O padre havia cometido suicídio. Maria se desespera e começa a gritar. Todos a olham sem entender nada. ela vai até a mesa do altar, pega uma cruz de prata que estava em cima da bíblia e, diante do corpo do padre Matheus, crava-a em seu próprio peito, dizendo: “se Jesus Cristo tirou você de mim ele me levará até você, meu amor”. Assim, a pecadora caiu desfalecida sobre o corpo do amado, balbuciando: “eu te amo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário